Rio de Janeiro, . | Esquerdismo, Política


Segundo turno: a hidra petista venderá bem caro a sua eventual derrota

Alexandre B. Cunha

Conforme era esperado, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad disputarão o segundo turno da eleição presidencial. Eles obtiveram, respectivamente, 46,03% e 29,28% dos votos válidos no último dia 7. Assim sendo, a eleição não foi decidida já naquela data por uma margem inferior a 4%. Esse simples fato é suficiente para estabelecer que o candidato da esquerda radical tem à sua frente uma tarefa extremamente difícil. As três primeiras pesquisas de intenção de voto reforçam esse quadro. De acordo o Ideia Big Data, Bolsonaro teria 54% dos votos, contra 46% do petista. Segundo o Datafolha, o ex-capitão seria vitorioso por 58% a 42%. Por fim, a pesquisa XP/Ipespe identificou um quadro ainda mais desfavorável para Haddad: 59% vs. 41%.

Apesar da vantagem desfrutada por Jair Bolsonaro, não se deve ter qualquer ilusão sobre o que ocorrerá daqui até o dia 28 de outubro. O PT não irá simplesmente cruzar os braços perante uma iminente derrota eleitoral. Na verdade, exatamente o oposto deve se verificar. Os militantes socialistas não se furtarão a lançar mão de dissimulações, calúnias, mentiras e golpes baixos e se dedicarão a satanizar o oponente. Ou seja, a hidra petista venderá bem caro a sua eventual derrota.

Hércules matando a Hidra de Lerna. Gravura de meados de 1565. Artista: Cornelis Cort. Fonte: Wikimedia Commons.

De fato, a ideia de que ao se defrontar com o amplo favoritismo de Jair Bolsonaro o PT irá se comportar de forma democrática e honesta e se contentar a apresentar as suas propostas ao eleitorado é simplesmente absurda. O partido já deu repetidas demonstrações do que é capaz de fazer ao perseguir os seus interesses. Assim sendo, é natural que se indague como que aquela organização extremista se comportará daqui até o segundo turno.

A dissimulação é bastante popular entre os militantes da esquerda radical. Para ilustrar esse ponto, considere a recente ‘mudança’ na avaliação do PT sobre a ditadura venezuelana. É sabido que o partido sempre apoiou o governo bolivariano. Todavia, Fernando Haddad recentemente afirmou que a Venezuela não é uma democracia. Em consonância com essa nova posição, o PT removeu do seu site algumas manifestações de suporte à tirania chavista. Por exemplo, isso ocorreu com uma nota parabenizando Nicolás Maduro por uma ‘vitória’ eleitoral que estava disponível neste link. Felizmente, ainda é possível visualizar o documento no Wayback Machine, um website que funciona como uma espécie de arquivo temporal da internet.

Conforme ilustrado pelas duas fotos que se seguem, o PT também mudou completamente o material de divulgação da campanha de Fernando Haddad.

Reproduções da página de Facebook da candidatura de Fernando Haddad. Fonte: Facebook.

Materiais de divulgação da candidatura de Fernando Haddad. Fonte: Kit do militante, website O Brasil Feliz de Novo.

Antes do primeiro turno, os petistas enfatizavam a sua tradicional cor vermelha e o presidiário de Curitiba. Agora, o vermelho praticamente sumiu, dando espaço para as cores da bandeira brasileira. Com relação ao criminoso condenado, a sua foto e o lema Haddad é Lula simplesmente desapareceram da propaganda esquerdista.

A racionalidade por trás dessas ações dissimulatórias é simples. Lembre que faltaram menos de 4% dos votos válidos para que Jair Bolsonaro fosse eleito já no último dia 7. Desta forma, é praticamente impossível que Haddad seja vitorioso no 2o turno se ele não tiver sucesso em conquistar o apoio de algumas pessoas que votaram no seu oponente. Como os petistas sabem que a usual postura do partido jamais fará com que as pessoas mudem o voto, eles decidiram simplesmente fazer de conta que não são o que são. Ou seja, a exemplo do que Dilma fez em 2014, Haddad está tentando ludibriar os eleitores. Vale ressaltar que a mudança de cores é particularmente desonesta, pois as cores nacionais são justamente aquelas que o Bolsonaro tem utilizado desde o começo da campanha.

De toda forma, essas mentiras são café pequeno perto de os demais truques petistas. No livro Take No Prisoners: The Battle Plan for Defeating the Left, o escritor conservador norte-americano David Horowitz analisa o embate entre Republicanos e Democratas nas eleições dos EUA. A análise desse autor é quase que integralmente válida para o caso brasileiro. Conforme ele deixa claro, a esquerda adota táticas impiedosas e se beneficia do fato de os seus oponentes não compreenderem de forma clara a natureza e os objetivos dos ataques dos quais são vítimas. O restante deste ensaio se apoia no texto de Horowitz.

O medo é um importante fator para a determinação do resultado de uma eleição. E a esquerda é mestre em explorar essa emoção. Considere o caso do programa Bolsa Família. Durante a campanha eleitoral de 2014, a própria Dilma Rousseff declarou que o programa acabaria se ela fosse derrotada. Existiram indícios de que o PT enviou mensagens via WhatsApp para os beneficiários do programa sugerindo que Aécio Neves iria extingui-lo. Houve também uma denúncia de que carros de som circularam pela cidade de Cabrobó (PE) anunciando que o programa acabaria caso Dilma fosse derrotada. Conforme o leitor pode verificar no vídeo a seguir, o senhor Edison Lobão Filho, que concorria ao governo do Maranhão com o apoio do PT, insinuou em um comício que Aécio iria acabar com o programa.

O PT lançou mão do mesmo truque sujo quando milhões de brasileiros honestos foram às ruas pedir o impeachment de Dilma Rousseff. Conforme documentado no vídeo abaixo, um carro de som circulou pelas ruas de João Pessoa em março de 2016 alardeando que queriam “dar um golpe no povo e acabar com o Bolsa Família” e outros programas.

A exploração do sentimento de medo não se restringe ao Bolsa Família. Em 2014 a candidata Marina Silva estava muito bem colocada nas pesquisas eleitorais. Por tal motivo, o PT se dedicou a desconstruí-la. O vídeo abaixo reproduz uma das peças publicitárias que o partido veiculou na época.

A mensagem de que a independência do Banco Central faria com que a comida sumisse das mesas dos brasileiros é mentirosa. Contudo, isso é simplesmente irrelevante para o PT. Tendo em vista o objetivo do partido consistia fazer com que os eleitores temessem a vitória de Marina, a peça publicitária foi extremamente bem preparada.

Vale ressaltar que antes mesmo da campanha eleitoral de 2014 se iniciar, o PT já estava trabalhando para disseminar o medo entre a população brasileira. O vídeo abaixo, o qual foi utilizado em uma propaganda do PT na televisão, foi ao ar em maio daquele ano.

Claramente, o PT manipula com maestria o sentimento de medo para atingir os seus objetivos políticos. Porém, o baú de golpes baixos da esquerda radical possui outro truque ainda mais vil. O leitor possivelmente já se deu conta de que os petistas frequentemente acusam os seus adversários de serem fascistas. Em eleições passadas, os tucanos foram os alvos de tal epíteto. Este ano, é a vez de Jair Bolsanaro. Similarmente, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, a palavra golpista foi colada na testa de todos aqueles que se manifestaram pelo afastamento daquela senhora.

Em um primeiro momento, tal comportamento pode parecer tão somente uma ação irracional levada a cabo por militantes desequilibrados. Contudo, exatamente o oposto é verdade. Existe método por trás disso. Considere a situação na qual os indivíduos B (brasileiro) e P (petista) estão engajados em um debate sobre o impeachment de Dilma. No momento que P acusa B de ser golpista, B precisará se defender. E enquanto B estiver ocupado em rebater a acusação, então ele não estará apto a expor os seus argumentos a favor do afastamento de Dilma. Observe que o insulto tem o efeito de inverter completamente a natureza do debate. Antes, o foco da discussão era o impeachment; em seguida, passou a ser o caráter de B. Ou seja, ao lançar uma acusação mentirosa sobre o seu oponente, o petista saiu da posição defensiva para a ofensiva. E, conforme apontado corretamente por Horowitz, em política é melhor estar no ataque do que na defesa.

Além de fazer com que P passe para a ofensiva, o insulto tem um segundo efeito relevante. Uma quantidade suficientemente grande de ataques, mesmo que todos sejam mentirosos, faz com que B se transforme, aos olhos de pelo menos parte do público, em um monstro. De fato, aquele insulto específico é tão somente parte de uma campanha maior de desconstrução e satanização de B, cujo objetivo é fazer com que ele se torne intolerável para uma expressiva parcela do eleitorado.

Dito tudo isto, não é de surpreender que no último debate antes do primeiro turno Fernando Haddad e Guilherme Boulos (candidato do PSOL, uma notória linha auxiliar do PT) tenham protagonizado o diálogo reproduzido no vídeo abaixo:

Em síntese, Jair Bolsonaro é, por ampla margem, o favorito para vencer o segundo turno. Contudo, o PT ainda não foi derrotado. Assim como em 2014, o partido está recorrendo à dissimulação, à mentira e à satanização do seu oponente. Durante os próximos quinze dias, ele se dedicará a desconstruir Jair Bolsonaro e convencer o público de que o ex-capitão do Exército é um monstro disfarçado de ser humano. Em outras palavras, a hidra petista destilará muito veneno e ódio ao longo da estrada que levará a sua provável derrota,


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