Rio de Janeiro, . | Economia, Política


Precisamos falar sobre a eleição presidencial de 2022

Alexandre B. Cunha

Conforme amplamente noticiado pela imprensa, a chapa composta por Alberto Fernández (presidente) e Cristina Kirchner (vice) foi vitoriosa na recente eleição presidencial ocorrida na Argentina. Ou seja, quatro anos após sair do governo sob várias acusações de corrupção e deixando como legado uma forte crise econômica, a esquerda foi reconduzida ao poder. Esse fato deixa claro que não se pode descartar a possibilidade de o PT (ou alguma de suas linhas auxiliares) ser vitorioso na próxima eleição presidencial brasileira, a qual está marcada para outubro de 2022.

Lula e Cristina Kirchner no Itamaraty em 18 de novembro de 2009. Fotógrafo: Ricardo Stuckert/PR. Fonte: Flickr.

Muitos brasileiros jamais votarão em um candidato do PT ou de qualquer outro partido de extrema esquerda. Por outro lado, muitos outros somente votarão em um candidato do complexo PT-PSOL-etc. Porém, essas pessoas com posição firmemente contrária ou postura decididamente favorável à extrema esquerda não são suficientemente numerosas para sozinhas decidirem as eleições. Na verdade, esse poder está nas mãos daqueles indivíduos que, para os fins deste texto, podem ser chamados de eleitores voláteis, ou seja, aqueles que não têm um posicionamento ideológico consolidado.

O principal fator levado em consideração por um eleitor volátil ao decidir que candidato apoiar é o desempenho da economia. Se tal desempenho for positivo, então o eleitor em questão tende a votar no candidato do governo; caso contrário, ele tende a votar na oposição. A própria experiência brasileira ilustra muito bem esse padrão de comportamento. Em 1989, a inflação estava disparando e o PIB se encontrava estagnado; consequentemente, o então presidente José Sarney foi não mais do que um saco de pancadas durante a campanha eleitoral. O sucesso do Plano Real em debelar a inflação fez com que Fernando Henrique Cardoso fosse eleito em 1994 e reeleito em 1998 (em ambas as ocasiões no primeiro turno). Todavia, como a economia estava fraca nos últimos anos do seu mandato, o seu candidato (José Serra) foi derrotado por Lula em 2002. A retomada do crescimento ocorrida a partir de 2005 permitiu que Lula fosse reeleito em 2006 e que a sua candidata Dilma Rousseff fosse vitoriosa em 2010. E se não fosse pelo sucesso daquela senhora em esconder do eleitor o real estado da economia em 2014, ela não teria sido reeleita. Por fim, a recessão que Michel Temer herdou do PT impediu que ele tivesse qualquer relevância na disputa de 2018.

Vale ressaltar que os impactos dos fatores econômicos são fortes o suficiente para ofuscar fatores de outra natureza. Por exemplo, considere o caso da corrupção. Apesar do escândalo do mensalão, Lula foi reeleito. Similarmente, o petrolão não impediu a reeleição de Dilma Rousseff.

Dito tudo isto, o que vai decidir o resultado da eleição de 2022 é o desempenho da economia. Se ocorrer uma retomada do crescimento e uma queda da taxa de desemprego, então haverá uma forte chance de que o governo atual venha ter sucesso em eleger o seu candidato (seja ele Jair Bolsonaro buscando um segundo mandato ou outra pessoa). Todavia, se a economia não decolar, dificilmente a oposição não será vencedora. E como o PT é o principal partido de oposição, infelizmente a possibilidade de a extrema esquerda voltar a ocupar o Palácio do Planalto não pode ser descartada.


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