Rio de Janeiro, . | Economia, Governo, Saúde


A relação entre saúde e economia: três considerações adicionais

Alexandre B. Cunha

Em complemento ao ensaio anterior, apresentam-se neste texto três considerações adicionais sobre a relação entre saúde e economia.

Consideração 1

Em um texto publicado neste blog em setembro de 2019, argumentou-se que a aceleração do crescimento econômico ocorrido a partir da Revolução Industrial foi fundamental para a elevação do padrão de vida, em escala global, da humanidade. A razão para tanto é que à medida que a humanidade enriqueceu e prosperou, mais recursos foram disponibilizados para a pesquisa de novos medicamentos, novas vacinas e similares e também para a construção de hospitais, a produção de aparelhos de tomografia etc. Em síntese, a saúde tem melhorado, de forma sustentada, ao longo dos últimos séculos devido ao progresso econômico.

No passado, a sangria era um procedimento adotado no tratamento das mais variadas enfermidades. Pintor: desconhecido. Fonte: Wikimedia Commons.

Consideração 2

De maneira simplificada, o argumento desenvolvido no texto anterior e na Consideração 1 pode ser resumido da seguinte forma: o crescimento econômico permite que se financiem os investimentos necessários para que haja aprimoramentos na saúde da população. Contudo, esse mecanismo não excluí a possibilidade de que uma redução pequena e/ou transitória na atividade econômica não tenha impactos negativos sobre a saúde. Existe uma vasta literatura científica voltada à análise desse problema específico. Para os fins deste texto, é suficiente dizer que, para o caso brasileiro, um estudo recente mostrou que a recessão que teve início no final de 2014 teve impactos adversos sobre a saúde da população.

Consideração 3

Não se pode negar que o confinamento ajuda a combater a pandemia. Para compreender este ponto, suponha que ao longo dos próximos 60 dias todos os brasileiros fiquem trancados nas suas casas de forma a cessar toda e qualquer interação social. Nesse cenário hipotético, reduzir-se-ia consideravelmente a disseminação da Covid-19.

O cerne do problema é constituído pelos impactos adversos decorrentes da interrupção da atividade econômica durante o confinamento. Conforme discutido acima, a recessão de 2015-2016 teve efeitos negativos sobre a saúde. Provavelmente o mesmo ocorrerá agora.

Como se tudo isso não bastasse, há um agravante: apesar de estar com as suas contas desequilibradas, o setor público está expandindo consideravelmente os seus gastos para combater a pandemia. Somado a recessão que certamente ocorrerá, esse fato nos deixa ainda mais próximo do ruinoso cenário no qual o governo federal não consegue honrar os seus compromissos financeiros. E, conforme discutido em outro texto deste blog, isso seria um desastre completo.

Resumindo, mesmo que ele atinja o seu objetivo de conter a pandemia, não é impossível que o confinamento nos proporcione uma vitória de Pirro.


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