Mais cedo ou mais tarde, o confinamento presentemente em curso no Brasil chegará ao fim. Cabe então indagar o que encontraremos após atravessar esse período. Se existe alguma certeza, então ela diz respeito à economia: o cenário será desastroso. O mundo estará enfrentando a mais forte recessão ocorrida desde a crise de 1929. No caso específico do Brasil, a mais recente previsão do FMI apontava para uma queda de 5,3% no PIB. A título de comparação, em 2015 e 2016 a economia se contraiu por, respectivamente, 3,5% e 3,6%. Tendo em vista que naqueles anos o Brasil passava por uma das mais severas crises da sua história, fica claro que temos pela frente uma colossal recessão.

Se do lado da economia é quase certo que encontraremos um cenário desalentador, nas outras dimensões as perspectivas não são muito mais animadoras. Comparativamente ao que era o nosso cotidiano até a eclosão da pandemia, a vida pós-confinamento deverá ser bem menos prazerosa, pois conforme se discute nos próximos parágrafos é altamente provável que nos defrontaremos com muitas restrições e limitações.

De fato, não é razoável assumir que vida imediatamente após o confinamento será igual à existente antes da Covid-19. Para que isso ocorra, será preciso (a) que exista uma vacina (ou um medicamento altamente eficaz) para a doença ou (b) que tenhamos criado naturalmente a chamada imunidade de rebanho durante o atual surto da doença. A hipótese levantada em (a) dificilmente ocorrerá em prazo inferior a um ano e meio, ao passo que, por motivos diversos, não se pode ter certeza de que o cenário (b) se concretizará.

A vida que possivelmente encontraremos após o confinamento deverá envolver uma combinação de medidas de distanciamento social (por exemplo, uso obrigatório de máscaras e luvas, controle do número de pessoas que poderão entrar simultaneamente em um estabelecimento comercial e redução do número de alunos nas salas de aula) e alguns casos de de Covid-19. E quanto mais desses casos houver, mais intensas e intrusivas serão as medidas de distanciamento. No limite, pode haver uma retomada do confinamento. Tanto que já se fala em confinamento recorrente no estado do Rio de Janeiro.

Infelizmente, encerrado o atual período de reclusão dificilmente retornaremos àquilo que se convencionou chamar, até meados de março deste ano, de normal. Tudo indica que defrontaremos com um triste cenário. Haverá uma forte crise econômica. Possivelmente estarão em vigor medidas de distanciamento social e o vírus chinês continuará infectando as pessoas. E para completar esse quadro sombrio, haverá também a ameaça de uma retomada do confinamento.