Rio de Janeiro, . | Economia, Política


Algumas considerações sobre a eleição presidencial de 2022: parte 3

Alexandre B. Cunha

Este é o último de uma série de três textos sobre a eleição presidencial de 2022. Combinam-se neste ensaio os argumentos apresentados nos dois ensaios anteriores para construir cinco cenários para o pleito em questão.

A exemplo do ocorrido em 2018, é possível que Jair Bolsonaro e o PT sejam figuras centrais na eleição presidencial de 2022. Fotógrafo (Jair Bolsonaro): Isac Nóbrega/PR. Autor (estrela do PT): não identificado. Fontes: Flickr e PT no Senado. As fotos foram editadas com intuito de gerar a combinação acima.

Antes de se realizar a apresentação dos referidos cenários, há que se fazer uma importante ressalva: o objetivo deste texto não é prever o resultado da próxima eleição presidencial. Afinal de contas, mesmo que, ao invés de janeiro de 2020, estivéssemos em janeiro de 2022 seria insensato tentar antecipar o resultado de um pleito que ocorrerá em outubro daquele ano. Na verdade, o exercício aqui realizado consiste tão somente em se utilizar a análise desenvolvida nos dois últimos artigos para identificar cinco quadros que podem se concretizar durante a referida eleição. Evidentemente, não se pode garantir que a disputa não se desenrolará de forma distinta daquelas cinco aqui consideradas.

Feita tal ressalva, é agora possível dar início à tarefa levada a cabo neste ensaio. O primeiro texto desta série sugere que muito provavelmente o PT será uma das duas principais forças na próxima eleição presidencial. Por outro lado, o segundo texto ilustra como a evolução da economia impacta o desempenho eleitoral do grupo político que está no poder. Essas conclusões fundamentam duas hipóteses adotadas neste texto: (1) se houver segundo turno uma das vagas será do PT e (2) a votação de Jair Bolsonaro será fortemente influenciada pelo desempenho da economia.

Dado esse par de pressupostos, é possível se ter uma visão geral de como se desenrolará a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022. Dois cenários podem ser vistos como extremos, no sentido de que em um deles a economia se comporta de maneira excepcionalmente positiva e em outro ela tem um desempenho desastroso. Nos demais três a economia tem desempenhos intermediários. Discutem-se inicialmente os dois quadros extremos, pois eles são de mais fácil compreensão e contribuem para o entendimento dos demais.

Cenário 1: desempenho econômico excepcional

Neste cenário, o qual é relativamente improvável, as taxas de inflação e de desemprego são extremamente baixas ao longo de 2021 e 2022, enquanto o PIB apresenta vigoroso crescimento durante o mesmo período. Em tal contexto, tem-se uma situação similar àquelas ocorridas na eleição geral de 1986 e na eleição presidencial de 1994. O excepcional desempenho da economia faz com que o candidato do governo federal tenha um excelente desempenho nas urnas. Assim sendo, há dois possíveis resultados: ou Jair Bolsonaro vence a disputa já no primeiro turno ou é reeleito por ampla margem no segundo turno.

Cenário 2: desempenho econômico desastroso

Este cenário é ainda mais improvável do que o anterior. As taxas de inflação e de desemprego atingem patamares elevados ao longo de 2021 e 2022, enquanto o PIB decresce durante o mesmo período. Adicionalmente, ocorre pelo menos um evento extremo como um desabastecimento generalizado causado por uma longa greve dos caminhoneiros ou uma crise fiscal severa a ponto do governo federal atrasar consideravelmente os pagamentos dos servidores públicos federais, dos aposentados e pensionistas da União e dos beneficiários do programa Bolsa Família. Neste contexto, as perspectivas eleitorais do candidato do governo são, a exemplo das eleições de 1989 e 2018, essencialmente nulas. Desta forma, o espaço que pertenceu a Jair Bolsonaro na disputa de 2018 é ocupado por outro candidato, o qual enfrenta o representante do PT no segundo turno. Presentemente, não é possível antecipar o vencedor desse confronto.

Cenário 3: desempenho econômico sólido

De forma simplificada, este cenário pode ser interpretado como uma variação do primeiro. Apesar de variáveis como PIB, inflação e desemprego se comportarem de forma a se constituírem em um fator capaz de induzir o eleitorado a renovar o mandato do atual presidente, o desempenho da economia não é forte o suficiente para que Jair Bolsonaro tenha uma vitória folgada. Assim sendo, ocorre um segundo turno no qual o atual presidente derrota o candidato petista.

Cenário 4: desempenho econômico mediano

Em tal contexto, o desempenho da economia não é forte o suficiente para garantir a reeleição de Jair Bolsonaro. Por outro lado, não ocorre uma crise forte ao ponto de fazer com que parte suficientemente grande do eleitorado repudie o atual presidente. Desta forma, haverá uma disputa acirrada no segundo turno entre Jair Bolsonaro e o representante petista. Não é possível antecipar o vencedor dessa disputa.

Cenário 5: desempenho econômico fraco

Este é o cenário que gera as mais complexas implicações eleitorais. O desempenho da economia é fraco o suficiente para reduzir consideravelmente as chances de Jair Bolsonaro ser reeleito. Contudo, ao contrário do que ocorre no cenário com desempenho econômico desastroso, o presidente ainda tem alguma força eleitoral. Por outro lado, muitos dos eleitores que o apoiariam em um contexto econômico mais favorável e não aceitam votar no PT buscam outro candidato. Assim sendo, o eleitorado contrário ao PT se divide entre Jair Bolsonaro e outro postulante. Ocorre um segundo turno, no qual o representante do PT enfrenta o próprio Jair Bolsonaro ou então um terceiro candidato. Não é possível antecipar o vencedor desse confronto.

Considerações finais

Conforme discutido no primeiro texto desta série, o PT possivelmente terá um importante papel na eleição presidencial de 2022. Por outro lado, a análise contida no segundo texto deixa claro como o desempenho da economia será fundamental para determinar as chances do candidato apoiado pelo governo federal. Desta forma, conclui-se que se a economia tiver um bom desempenho, então possivelmente Jair Bolsonaro será reeleito. Por outro lado, se a economia tiver um desempenho muito ruim, então provavelmente haverá uma disputa entre um petista e um candidato que não pertence ao grupo político do atual presidente.


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