Rio de Janeiro, . | Socialismo


A fundamental incompatibilidade entre o socialismo e a natureza humana

Alexandre B. Cunha

As trágicas experiências de países que abraçaram o socialismo mostram, de forma contundente, que o sonho da utopia socialista inevitavelmente se transforma em uma realidade caracterizada pela miséria e pela tirania sempre que as ideias de Karl Marx e seus discípulos são postas em prática. Há diversos motivos para tanto. Discute-se neste texto uma razão específica: a natureza semidivina que o marxismo implicitamente atribui aos indivíduos que governarão a sociedade após a revolução socialista.

No irreal mundo socialista, até mesmo Stalin é terno e generoso. Autor desconhecido. Fonte: Flickr.

Conforme discutido em um post anterior, Os Artigos Federalistas são uma obra fundamental para compreender a Constituição dos Estados Unidos. A leitura daqueles textos deixa claro que os seus autores Alexander Hamilton, John Jay e James Madison eram pessoas pragmáticas e sensatas. Eles não assumiram que os governantes fossem seres angelicais. Tanto que no ensaio de número 51 está escrito que “Se os homens fossem anjos, a existência de um governo seria desnecessária. Se os anjos governassem os homens, seria desnecessário impor controles (externos ou internos) ao governo.” (trecho entre aspas em itálico traduzido do inglês por este autor). Assim sendo, a necessidade de se restringir o poder dos governantes foi uma das premissas adotadas ao se elaborar a Carta Magna dos EUA.

A abordagem de Karl Marx não poderia ser mais distinta. A título de ilustração, considere o tão falado Manifesto Comunista, escrito por Marx em co-autoria com Friedrich Engels. Os autores atribuíram características maquiavélicas ao burguês. Além de ser um cruel explorador, o burguês era desprovido de sentimentos a ponto de considerar como humanos somente os integrantes da sua classe social. Mais ainda: na visão daqueles dois autores, o burguês era tão maligno que ele deveria ser “suprimido”.

Com o intuito de pôr fim à alegada exploração burguesa, Marx e Engels propuseram concentrar o poder e a propriedade nas mãos do estado. Iniciar-se-ia assim a jornada da humanidade rumo ao ‘paraíso igualitário’. Não se deve minimizar o quão primário é esse o ‘raciocínio’. Marx e Engels postularam que os todo-poderosos gestores do ‘estado proletário’ se dedicariam a criar uma sociedade melhor, apesar da inexistência de qualquer mecanismo que impusesse limites e controles à sua ação. Ou seja, após a revolução socialista seria instituído um governo de anjos! Por si só, essa hipótese já é um contrassenso. Contudo, o disparate se torna ainda mais gritante quando se leva em conta que os dois autores não justificaram a sua crença de que as pessoas que ascenderiam ao poder em consequência da revolução socialista seriam superiores aos burgueses que eles consideravam tão abjetos.

Há que se ressaltar que a ‘lógica’ marxista é ainda mais absurda do que o sugerido no parágrafo anterior. Suponha que existisse um indivíduo com os atributos necessários para ser o líder do ‘estado proletário’. Após a sua morte, seria necessário identificar um indivíduo que beirasse a perfeição para sucedê-lo. Consequentemente, a implantação do socialismo requer não apenas a existência de homens que se comportem como anjos; é preciso que o número deles seja suficientemente grande para que, sempre que se fizer necessário, um líder ideal possa ser substituído por um novo líder também ideal.

O argumento acima sugere que o marxismo possui uma natureza messiânica. Desta forma, não é de surpreender que o fenômeno do culto à personalidade seja levado às raias do ridículo nas ditaduras socialistas. Por exemplo, dentre outros delírios, a propaganda oficial da Coréia do Norte assevera que o atual ditador Kim Jong-un já era capaz de dirigir um automóvel aos três anos de idade e que seu antecessor e pai, Kim Jong-il, começou a falar com oito semanas de vida.

Norte-coreanos se curvam perante estátuas de Kim Il-sung (fundador da dinastia) e Kim Jong-il. Fotógrafo: Bjørn Christian Tørrissen. Fonte: Wikimedia Commons.

Encerra-se este texto com dois breves comentários. Primeiro, Karl Marx não foi um gênio. Além do problema discutido neste texto, a sua ‘teoria econômica’ é absolutamente rudimentar, inclusive para os padrões da época. Tanto que quando Marx nasceu o magistral livro A Riqueza da Nações, de Adam Smith, já havia sido publicado. Segundo, causa espanto que ainda existem pessoas que tentam elevar o marxismo à categoria de ciência.


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